É claro que, por me
sentir válido estando junto a ela, também a necessitava. Era um ser
raro, precioso, que pela chance de cuidado me oferecia um encantador
sentido de existência no instante. Mas nem por isso, nesse contexto
além de mim, pude ignorar a sede. Vou comprar algo pra tomar, lhe
disse. Estava em outro lugar que não minha cidade, fazendo o que
sempre fazia. Então compreendi que a beleza seria justamente essa:
fazendo a mesma coisa, em outro lugar, me acrescentava sem
desvincular-me do que era.
Ofereci um gole, não
aceitou. Com meu estômago vazio, algo em mim dava indício de
transformação. Aplaudi uivando. Ela ainda sentada no meio fio, eu
encostado no poste. Veio mais para o lado, afastando-se.
E era como se, quanto
mais eu bebesse, mais me afastasse dela. Porque fazendo o que sei,
mais me aproximava de mim. E só me aproximava dela me abrindo para a
vida. E me abrindo para a vida, eu estaria disposto ao perdão, à
sensibilidade, à beleza que só emerge no desapego autêntico de si
mesmo.
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