segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pequeno tratado sobre as almas distantes

Em virtude dos pegajosos caminhos visados ao apogeu da personalidade, surge comumente descompassos entre a cinética cotidiana e o magma substancial de constante movimento cíclico e orgânico nas vias intra corpóreas. As velocidades, quanto mais distintas, ocasionam perda de equilíbrio, arritmia generalizada, ofuscamentos, instabilidades moleculares e dança de dúvidas. Enquanto as causas originárias da anacronia só conseguem ser combatidas em específicos momentos, nos quais a singularidade pontual é atingida pela parada do tempo, métodos paliativas costumam ser utilizados, tanto à aproximação dos paradigmas quanto ao encobrimento da consciência sobre o abismo entre os pontos. Entretanto, pode-se chegar à excelência da resolução do conflito sem a necessidade de recorrer a reagentes materiais. Sendo a mente a desencadeadora de qualquer pendência, nela encontra-se permanentemente os átomos gênese dos processos de pequena morte. Cabe ao paciente – e é justamente nisso que se contém sua responsabilidade primordial no tratamento – reencontrar caminhos que excitem os átomos vitais, sobressaindo a energia do magma em relação à velocidade cinética.
 
...ou vivo te encontro em meu ser.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Poema para desconfortar o amigo

Se palavras não te movem
Se a si mesmo não se bastas
Se a mudança não te chama
Se da grama inventa a mata
Se do chão inventa o fim
Se a corrente não se arranca
Se da cama não se dorme

Então não tem mais jeito...


Vá e a reconquiste!! Homem!



***

Pacto:

Se estamos quase bem
Nossa amizade se atrapalha
Guri, que sempre estejamos
Um pouco fudidos da cara.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Luta

Eu busco, tento, questiono, repenso. Cedo – transformo – recrio – elaboro. {Experimento} {constato} {capacito} {manejo}. Minto... organizo... ofereço... refaço... Avanço> esforço> reforço> escrituro. Permito permeio pulverizo esvoaço. Acabo/ anulo/ aniquilo/ instauro. Acompanho: apanho: estudo: absorvo. Crio & elaboro & assumo & ornamento. Apalpo; amanso; escorro; escarro.

E as coisas vão se tornando cada vez mais óbvias.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Temores

Suzane está terrivelmente angustiada. É véspera de seu casamento, e seu cheff de cozinha particular, responsável pela confecção do bolo matrimonial, demitiu-se. Ela passou a manhã inteira atrás de outro cozinheiro, mas nenhum de escalão semelhante encontrava-se disponível. Teme a ruína de sua festa, os comentários maldosos alheios, a mancha em um dia sonhado como o melhor de sua vida.
 
Na mesma cidade, o coração de Álvaro disparou com uma notícia. A empresa em que trabalha necessita cortar gastos, e ele será demitido mês que vem. Foi na exata época em que comprou carro e computador a sua família, o que já o deixava preocupado com o aumento das contas. Teme o endividamento, a falta de emprego com salário digno, o esgotamento dos recursos para sustentar seus filhos novos.
 
Ao mesmo tempo, Luís chorou como há anos não fazia. Recebendo suas notas da faculdade, viu que terá que fazer prova final em uma matéria de seu curso de Engenharia Civil. Está no 3º ano, e pela primeira vez teve dificuldades na compreensão de uma disciplina. Teme a diminuição do seu Índice de Rendimento Acadêmico, o vexame que passará perante seus pais, o risco de não conseguir a planejada bolsa de intercâmbio no exterior.
 
Nesse mesmo dia, Karen acordou em estado de choque. Viu-se em um quarto de hospital, com terríveis dores nas genitálias, nos ossos da boca, além de escoriações sobre seu ventre. Lembrou-se de flashes da noite anterior, em que foi surpreendida por dois homens enquanto voltava do trabalho. Teme que as imagens não sumam de sua mente, o risco de uma gravidez, de doenças, o trauma que já se mostra insuperável.
 
Simultaneamente, Rogério sentiu o chão despencar. Soube da traição de sua namorada, lendo no celular dela mensagens em que combinava encontros escondidos com o ex. Estavam namorando há quase um ano e meio, e ele começava a pensar em noivado. Teme o retorno à solidão, o cansaço de se ter que buscar outro amor, seu ódio que lhe clama atitudes de vingança.
 
Ambos estão atônitos, percebendo profundas e dolorosas mudanças em suas vidas. Nenhum deles conseguirá dormir esta noite.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Deslucidações sobre novas paredes

Não era hora de abrir os olhos. E isso eu digo excomungando possíveis e imagináveis retóricas de elucidação. Sempre aquela velha história dos errros. Assim é provável uma nova concepção plana. Saindo detrás das lentes, parece reunião de fósseis.
 
Sinceramente, os dias se correspondem à medida que os cabalizo. Uma resposta intragável só se penetra por outros meios. É que a vontade de deitar se é sensível por terra. A hora de levantar compreende: diário sólido. A controvérsia outra vez à risca de frente.
 
Endorréico. Temperâmpto caduco. Recobri a sentença fossilínea dislépta. Ao cabo de outros nós, fermentados, ceando de ideias minadas.
 
Soar-se certo ainda que nefasto. A face calada é penal, conta de escapulários em trovas. E a noite realça capítulos em série de uma mesma ordem.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Apego

Indo contra o que eu sentia, levantei-me e saí de seu lado. Participava de forma muito desvinculada de sua dor a enxergando com meus olhos caídos. Sabia que ela precisava de mim, que só estando ali, sentados no meio fio, a protegia da irradiação que desmaculava sua consciência. Vi seu ex namorado há alguns metros e perguntei se poderia chamá-lo; ela disse acena, mas não chama ele não.
 
É claro que, por me sentir válido estando junto a ela, também a necessitava. Era um ser raro, precioso, que pela chance de cuidado me oferecia um encantador sentido de existência no instante. Mas nem por isso, nesse contexto além de mim, pude ignorar a sede. Vou comprar algo pra tomar, lhe disse. Estava em outro lugar que não minha cidade, fazendo o que sempre fazia. Então compreendi que a beleza seria justamente essa: fazendo a mesma coisa, em outro lugar, me acrescentava sem desvincular-me do que era.
 
Ofereci um gole, não aceitou. Com meu estômago vazio, algo em mim dava indício de transformação. Aplaudi uivando. Ela ainda sentada no meio fio, eu encostado no poste. Veio mais para o lado, afastando-se. 
 
E era como se, quanto mais eu bebesse, mais me afastasse dela. Porque fazendo o que sei, mais me aproximava de mim. E só me aproximava dela me abrindo para a vida. E me abrindo para a vida, eu estaria disposto ao perdão, à sensibilidade, à beleza que só emerge no desapego autêntico de si mesmo.