segunda-feira, 23 de abril de 2012

9 a forismos

Sozinho estava, cumprimentou-o:
- Beleza!
Sozinho desfez-se
Sozinho continuou.

As lágrimas são os meus motivos para, em pleno inverno, comprar uma laranjinha e me reidratar.

Extra! Extra!
Suicida fracassado se auto processa por tentativa de homicídio
ganha a causa
e é condenado à morte.

O ponto de virada do clipe está quando o herói, após derrotar todos os monstros e subir na torre mais alta do castelo, cobre a princesa que sente frio e beija sua testa. Depois cai fora.

Querer ou morrer, não há pronome em questão?

“O papel está morto” Caneta sem tinta.

E então, como num passe de mágica, todos os lugares do escuro castelo em que ele passou tornam-se floridos, o dragão transforma-se num cachorro, e a princesa pula a janela de seu quarto para acompanhá-lo. E morre na queda.

Não é por nada não
mas essa água com gás
mas essa lua minguante
não me comovem nem um pouco.

Escritor
Ser ao mesmo tempo fracassado e bem sucedido.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Impostura

Não há inspiração que supere a da melancolia. Nesta aura radial e envolvente, um mero abrir e fechar de janelas assume a significância de uma afronta, uma manipulação exterior que me provoca a percepção apurada. Nisso compreendo o finar do fluxo que invadiria minha criação, e é necessária uma atitude que retome minha aragem criativa.
  
- Com licença, diletos senhores.

Apenas um dos cinco companheiros se viram à minha demanda.
  
- Estava em minha mesa, aderindo aos meus sentidos, quando não pude reparar que...
  
Ruídos acobertantes.
 
- Huhum.
  
- Falta-me ar que refrigere os espíritos, se é que me entendem.
 
Palavras não reconfiguram matéria. Invado o espaço do grupo, resvalando e desabando cervejas. Minha mão ao esforço de reabrir as ventanas.
  

Despertando a este mundo, deparo-me aderente à calçada, sem o som de meus bolsos e um comichão deslumbrante de orelha. Algo em meu estômago impedindo a compostura ereta. Meu bloco de notas assegurado entre a blusa e a barriga.
  
Reli. Parecia bom. Algo incomodava. Encontrei Fernando com o vinho de encosto à árvore.
 
- Um sinônimo de fluxo, no desfecho do 1º parágrafo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um argumento a mais aos que acreditam que basta aceitar Jesus para ser salvo

Recolheu o lixo.
E era lindo.
Dormiu até tarde depois de assistir o filme do cachorro.
E era lindo.
Escreveu asneiras quando ficou sensível.
E era lindo.
Soltou um pum.
E era lindo.

Na verdade
Qualquer coisa feita pelo que é lindo
Será lindo

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Essência

A revolução do humor condiz com a configuração celeste. Acúmulos cinzentos em todo alcance dos olhos impedem o escape da carga de melancolia. Instantânea ao despertar dos olhos: uma mente acrítica e distraída que aceita o primeiro impulso que lhe é concedido.

É pouca a vontade de encarar o mundo sob essa atmosfera. As sombras lhe diminuem a vontade de voar – literalmente, um Congresso obrigatório em outro estado. Está seco lá fora, e essa ideia o movimenta. Encaminha sua manhã aos últimos preparativos de uma inédita experiência aérea.

O dia continua imutável após o almoço. Surge a mudança: trilha sonora irregular sobre um cinza cada vez mais escuro. Lâminas amadurecidas começam a despencar no instante em que o táxi o desembarca. Corre ao aeroporto carregando marcas que estigmatizam um ente estranho à condição do tempo.

30 minutos torrenciais atrasam o voo por segurança. Já seco, espera uma tragédia muito mais possível por sua presença. Se assenta, movimenta-se, pára, continua, passeiaVAI! súbito o joga para trás e perde o chão.

Vai chegando mais próximo das nuvens opressoras. É sua vingança. Encara-as, funde-se, perfura, supera. E para além disso é azul. Compreende: não há nuvens por cima delas. Azul. Para sempre assim enquanto dia.

O firmamento pretensamente neutro permite o trânsito irrestrito de sensações. Surgem perante o próprio ser, isento das incontroláveis inserções que encobertam. Está abraçado e liberto. Ali em cima não se está, ali em cima se é.