Suzane está
terrivelmente angustiada. É véspera de seu casamento, e seu cheff
de cozinha particular, responsável pela confecção do bolo
matrimonial, demitiu-se. Ela passou a manhã inteira atrás de outro
cozinheiro, mas nenhum de escalão semelhante encontrava-se
disponível. Teme a ruína de sua festa, os comentários maldosos
alheios, a mancha em um dia sonhado como o melhor de sua vida.
Na mesma cidade, o
coração de Álvaro disparou com uma notícia. A empresa em que
trabalha necessita cortar gastos, e ele será demitido mês que vem.
Foi na exata época em que comprou carro e computador a sua família,
o que já o deixava preocupado com o aumento das contas. Teme o
endividamento, a falta de emprego com salário digno, o esgotamento
dos recursos para sustentar seus filhos novos.
Ao mesmo tempo, Luís
chorou como há anos não fazia. Recebendo suas notas da faculdade,
viu que terá que fazer prova final em uma matéria de seu curso de
Engenharia Civil. Está no 3º ano, e pela primeira vez teve
dificuldades na compreensão de uma disciplina. Teme a diminuição
do seu Índice de Rendimento Acadêmico, o vexame que passará
perante seus pais, o risco de não conseguir a planejada bolsa de
intercâmbio no exterior.
Nesse mesmo dia, Karen
acordou em estado de choque. Viu-se em um quarto de hospital, com
terríveis dores nas genitálias, nos ossos da boca, além de
escoriações sobre seu ventre. Lembrou-se de flashes da noite
anterior, em que foi surpreendida por dois homens enquanto voltava do
trabalho. Teme que as imagens não sumam de sua mente, o risco de uma
gravidez, de doenças, o trauma que já se mostra insuperável.
Simultaneamente,
Rogério sentiu o chão despencar. Soube da traição de sua
namorada, lendo no celular dela mensagens em que combinava encontros
escondidos com o ex. Estavam namorando há quase um ano e meio, e ele
começava a pensar em noivado. Teme o retorno à solidão, o cansaço
de se ter que buscar outro amor, seu ódio que lhe clama atitudes de
vingança.
Ambos estão atônitos, percebendo profundas e dolorosas mudanças em suas vidas. Nenhum deles conseguirá dormir esta noite.