segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Temores

Suzane está terrivelmente angustiada. É véspera de seu casamento, e seu cheff de cozinha particular, responsável pela confecção do bolo matrimonial, demitiu-se. Ela passou a manhã inteira atrás de outro cozinheiro, mas nenhum de escalão semelhante encontrava-se disponível. Teme a ruína de sua festa, os comentários maldosos alheios, a mancha em um dia sonhado como o melhor de sua vida.
 
Na mesma cidade, o coração de Álvaro disparou com uma notícia. A empresa em que trabalha necessita cortar gastos, e ele será demitido mês que vem. Foi na exata época em que comprou carro e computador a sua família, o que já o deixava preocupado com o aumento das contas. Teme o endividamento, a falta de emprego com salário digno, o esgotamento dos recursos para sustentar seus filhos novos.
 
Ao mesmo tempo, Luís chorou como há anos não fazia. Recebendo suas notas da faculdade, viu que terá que fazer prova final em uma matéria de seu curso de Engenharia Civil. Está no 3º ano, e pela primeira vez teve dificuldades na compreensão de uma disciplina. Teme a diminuição do seu Índice de Rendimento Acadêmico, o vexame que passará perante seus pais, o risco de não conseguir a planejada bolsa de intercâmbio no exterior.
 
Nesse mesmo dia, Karen acordou em estado de choque. Viu-se em um quarto de hospital, com terríveis dores nas genitálias, nos ossos da boca, além de escoriações sobre seu ventre. Lembrou-se de flashes da noite anterior, em que foi surpreendida por dois homens enquanto voltava do trabalho. Teme que as imagens não sumam de sua mente, o risco de uma gravidez, de doenças, o trauma que já se mostra insuperável.
 
Simultaneamente, Rogério sentiu o chão despencar. Soube da traição de sua namorada, lendo no celular dela mensagens em que combinava encontros escondidos com o ex. Estavam namorando há quase um ano e meio, e ele começava a pensar em noivado. Teme o retorno à solidão, o cansaço de se ter que buscar outro amor, seu ódio que lhe clama atitudes de vingança.
 
Ambos estão atônitos, percebendo profundas e dolorosas mudanças em suas vidas. Nenhum deles conseguirá dormir esta noite.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Deslucidações sobre novas paredes

Não era hora de abrir os olhos. E isso eu digo excomungando possíveis e imagináveis retóricas de elucidação. Sempre aquela velha história dos errros. Assim é provável uma nova concepção plana. Saindo detrás das lentes, parece reunião de fósseis.
 
Sinceramente, os dias se correspondem à medida que os cabalizo. Uma resposta intragável só se penetra por outros meios. É que a vontade de deitar se é sensível por terra. A hora de levantar compreende: diário sólido. A controvérsia outra vez à risca de frente.
 
Endorréico. Temperâmpto caduco. Recobri a sentença fossilínea dislépta. Ao cabo de outros nós, fermentados, ceando de ideias minadas.
 
Soar-se certo ainda que nefasto. A face calada é penal, conta de escapulários em trovas. E a noite realça capítulos em série de uma mesma ordem.