segunda-feira, 2 de abril de 2012

Essência

A revolução do humor condiz com a configuração celeste. Acúmulos cinzentos em todo alcance dos olhos impedem o escape da carga de melancolia. Instantânea ao despertar dos olhos: uma mente acrítica e distraída que aceita o primeiro impulso que lhe é concedido.

É pouca a vontade de encarar o mundo sob essa atmosfera. As sombras lhe diminuem a vontade de voar – literalmente, um Congresso obrigatório em outro estado. Está seco lá fora, e essa ideia o movimenta. Encaminha sua manhã aos últimos preparativos de uma inédita experiência aérea.

O dia continua imutável após o almoço. Surge a mudança: trilha sonora irregular sobre um cinza cada vez mais escuro. Lâminas amadurecidas começam a despencar no instante em que o táxi o desembarca. Corre ao aeroporto carregando marcas que estigmatizam um ente estranho à condição do tempo.

30 minutos torrenciais atrasam o voo por segurança. Já seco, espera uma tragédia muito mais possível por sua presença. Se assenta, movimenta-se, pára, continua, passeiaVAI! súbito o joga para trás e perde o chão.

Vai chegando mais próximo das nuvens opressoras. É sua vingança. Encara-as, funde-se, perfura, supera. E para além disso é azul. Compreende: não há nuvens por cima delas. Azul. Para sempre assim enquanto dia.

O firmamento pretensamente neutro permite o trânsito irrestrito de sensações. Surgem perante o próprio ser, isento das incontroláveis inserções que encobertam. Está abraçado e liberto. Ali em cima não se está, ali em cima se é.

2 comentários:

  1. é óbvio, mas tb só reparei que acima das nuvens não chove estando por cima delas.
    Bonito texto :)

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  2. Voar para ti significa muito mais...

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