segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Festa da carne

Será a alegria algo além de uma estratégia para legitimar nosso desejo? Instantaneamente repercuto barulho, dissimulo alto astral, aceito sem questionamento as músicas que maestram nossas atitudes. Vejo como um prelúdio necessário para envolver-me ao ambiente. Vou encarnando em meu ser os requisitos ao êxito, entro na exata sintonia para atingir o objetivo.

Prossigo nessa maré abastecendo e alterando-me. Fujo de meus amigos que já parecem satisfeitos. Inicio a caça, conferindo empiricamente o melhor custo benefício do procedimento. Certeza de si mesmo, precisão de movimentos, dose exata de força bruto. Demasiadas vãs para que se atinja a verdadeira missão. Com um pouco mais de requinte nesta última empreitada, estabeleço o acordo que continuemos no devido ambiente propício.

40 minutos de espera no local combinado, e a carne não se faz presente. Consumo nesse tempo mais que o suficiente para que escape o controle de mim mesmo. Já não lembro mais por quantas bocas passei, nem a identidade sexual de cada uma delas. Encosto-me na mureta observando a rotação do asfalto.

Caminho sem sentir meus pés, rumo não definido. Repulsam-me tudo que aproximo. Em um carro amplificado de som, dois casais e uma menina segurando a garrafa – plástico translúcido ao fim. Cruzo seu olhar e lhe escapa a risada insinuante. Desvio, retorno. Já está mais que evidente.

Claramente feia. Claramente não me importo. É um mamífero em plenas capacidades reprodutivas.

Atravessamos a beira mar sob a meia luz da nascente. Entra em meu quarto, mal percebo somos nus. Atiçamos um ao outro com o sons ainda vivos da alegria; envolvo-me até estar atuante na celebração. Toco a cuíca com dois dedos, sinto a textura do pandeiro envolvido na palma de minhas mãos, e o movimento dos quadris segue o ritmo do samba.

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