segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Liquefação

Começou em um folhear líquido. Permaneceu jorrando, fluindo cristalino, e dele as palavras iniciaram a vaporização. Eram concretas enquanto instantaneidade; ao contato com o vento, pulverizavam-se expandindo o alcance até se diluírem sobre sua cabeça, com as partículas mais densas capturadas pela mente. Jorraram continuamente transbordando sua fonte enxuta. Agora cheia, comportava uma leve energia invisível e constante.

Mas com passar dos dias seu recipiente foi naturalmente se esvaindo. Quando necessitava requisitá-lo, havia pouco líquido a se beber, e a fonte se extinguia até o fim aparentemente irremediável de uma seca. As minipartículas verbais continuavam suspensas no ambiente, mas eram deveras imprevisíveis: aproximavam, desapareciam, permaneciam, e continuavam incontroláveis.

Ao momento crítico da escassez, era urgente que a sede se saciasse. Não havia mais nada a se beber, e o acúmulo volátil continuava cada vez mais distante, as palavras irreparavelmente inatingíveis. O que ainda sobrava provinha de outros sentidos – e na devida atenção a eles surgiram as primeiras garoas.

Elas provavam que não eram somente as palavras que compunham aquele combustível. Pelo memória tátil, imagética, atmosférica, atraiu as suspensas moléculas que, por ressonância, se aproximaram e foram condensando umas nas outras até o momento em que não cabiam mais nesse estado de comportamento. Precipitaram, com o líquido voltando a jorrar em sua fonte.

Um comentário:

  1. Interessante este texto, atual e bem escrito.
    Gostei bastante.

    um abraço, até

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