segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Escudo de plástico

Foram horas planejando detalhadamente tudo que poderia alegar a seu favor. Testou prós e contra de argumentos, variadas entonações vocais, possíveis respostas do oponente e a defesa sobre cada uma delas. Tinha todo o fato a seu favor, bastando direcioná-lo na razão para obter o que julgava de direito.
 
Era muito mais fácil quando tinha esse tempo para pensar minunciosamente no que dizer. Se dependesse de si, seria tudo linguagem escrita. Preferia resolver tudo por e-mail, meditando cada palavra. Incontáveis vezes frente a frente encontrando horas depois a resposta correta.

Agora era assim que precisava solucionar. Entrou à sala fingindo segurança – por dentro tal qual alguém que se declara. Começou da forma como planejou, mas nem precisou dar sequência: o outro já cônscio que deveria justiçá-lo.

Um pingo de decepção, preparara-se para o combate. Até melhor que resolvesse na calma. Ao apertarem as mãos, choque: a alfinetada sobre ele que fosse mais ligeiro na próxima vez.
 
Voltou remoendo essa pequena injuria que respondeu tão parcamente. Não teria outra oportunidade à réplica senão no pensamento. Resolveu o problema saindo-se com a moral rebaixada. Se acostumou tanto a raciocinar que não mais conseguia emanar impunemente aquilo que sentia de verdade.

2 comentários:

  1. A razão é como uma cela de cadeia, você pode ampliá-la achando que tem mais liberdade, mas sempre estará preso dentro dela.

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