Faltava o último ingrediente para que o Dr Octágonus desse
vida à sua mais nova criação. Era o ser perfeito, inerrável, inalcançável,
inenarrável, ininteligível. Na verdade, o Dr Octágonus não precisou de trabalho
intelectual nenhum para construir seu empreendimento. Sonhou com ele na exata
noite em que decidiu vender todo seu laboratório para comprar uma casa na praia
e viver de um kisque de água de coco. Estava redigindo freneticamente os
anúncios item por item no Mercado Livre, início do nascer de sol, quando pegou
no sono. Acordou dizendo eureca. As engrenagens e ingredientes estavam ao
alcance, exceto uma certa loção que precisava buscar pessoalmente com uns
índios do pantanal. Achou uma promoção imperdível de passagens aéreas para
Campo Grande no Melhores Destinos. Atrasou um pouco seu cronograma, pois a
incursão na tribo exigiu dois meses de rituais de boas vindas e despedida.
Chegou ao laboratório, aplicou a loção, esperou mais duas semanas para a
absorção do fluido frente a matéria. E finalmente, ah, o sonho de sua vida,
aplicou o último toque.
-
Olá... acorde!
-
Mestre, mate-me.
-
O que?
-
Mate-me.
-
Por quê?
-
Não importa, mate-me.
-
Nunca, você é minha criação mais perfeita.
-
Pois é essa perfeição que me dá lucidez
suficiente para lhe exigir: mate-me.
-
Isso é loucura.
-
Exijo: mate-me.
O Dr. Octágonus
aplicou em si próprio a injeção letal: preferia morrer a matar o outro.
Seu filho o cremou, pois enterrar causaria uma degradação ambiental muito
grande. Sozinho, sem o dom de aniquilar-se, passou a existência vagando em
busca de seu fim.
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